quinta-feira , 18 abril 2024
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Taquaruçu: a esposa do expedicionário

Com 95 anos, Darcisa Bottezini De Bona é uma das primeiras moradoras de Taquaruçu do Sul, e reside na localidade de Cerro Alto. Nestes tempos de pandemia, a família de nove filhos, 27 netos e 21 bisnetos se desdobra para cuidar da ‘nona’, como é carinhosamente chamada. Apesar da idade, ela se mantém ativa, o que, conforme conta, é um dos segredos para manter a saúde.

– Eu como de tudo, procuro me movimentar muito. Nunca fui de esquentar banco! Acho que Deus me deu muita saúde. Se precisar ir capinar, ainda faço alguma coisa, lido na horta, tenho meus frangos, dois porcos. Tomo meia tacinha de vinho quase todo dia, geralmente, o vinho tinto –, conta, cheia de humor.

A história da nona e sua relação com Taquaruçu do Sul começou no seu nascimento, no dia 9 de maio de 1925, quando o lugar ainda pertencia a Palmeira das Missões. É filha do casal Cesário Bottezini e Dosolina Pascoalini, que vieram de Garibaldi, em busca de terras férteis e prósperas. Teve 11 irmãos.

– No início tudo era difícil, aqui era só mato. Não tinha moinho, não tinha estrada. Transporte, só a cavalo. A primeira casa era muito simples, pobre. A gente não passava fome porque plantava milho, feijão e trigo, tínhamos galinhas. No início, porco não tinha. Pra ir num comércio ou moinho, era longe. Às vezes não tinha farinha pronta. Pouca coisa se comprava, de vez em quando, metros de tecido, porque as roupas eram costuradas em casa –, recorda.

Lembranças

Questionada sobre histórias antigas, Darcisa lembra que antes de ir brincar, os pais pediam para os filhos ajudarem com as tarefas da casa. “A mãe sempre dizia que antes de ir brincar, tínhamos que socar o arroz. Então a gente levantava mais cedo, para depois ir brincar. E no final do dia, rezávamos o terço. Brincávamos de casinha, com pedaços de prato, para fazer as comidinhas. Era assim”, relembra.

O namoro, na época, também rendia histórias. “Nas festas, o rapaz que estava interessado pedia para alguém dar o recado, ou escrevia em um bilhete, que queria conversar com a gente. Se também havia interesse, a gente passeava. Se não, dispensava”, detalha.

O marido, Carmelindo José De Bona, ela conheceu quando era mais adulta. Ele foi expedicionário do Exército Brasileiro, na Segunda Guerra Mundial, e ela teve de esperar ele ser dispensado para conhecê-lo pessoalmente. “As irmãs dele me mostravam as fotos. Eu achava ele bonito, e aguardava uma oportunidade. Até que ele voltou, começamos a conversar e deu no que deu”, brinca. “Era um rapaz muito sério, trabalhador. Quando casamos, compramos essa terra, pagamos tudo depois de casados”.

O casamento foi em junho de 1948, em Frederico Westphalen, celebrado na igreja antiga, pois Taquaruçu do Sul não tinha padre. “Fomos de caminhão, dirigido pelo Angelo Perozza. Foi celebrado pelo monsenhor Albino Buzatto, que era coadjutor do monsenhor Vitor Battistella. Meu vestido foi feito por uma costureira que também tinha o sobrenome Perozza”.

Vida em comunidade

O casal teve nove filhos, Valmor, Cleomar, Marinês, Nívio, Moacir, Helena, Idair, Renita e Elita. Sempre esteve envolvido nas atividades da comunidade, colaborando com o desenvolvimento do município. “Eu cantei por muito tempo na igreja, meu marido foi presidente da capela da linha Fátima. Quando começaram o futebol, ele também ajudou. Sempre participamos das atividades sociais, assim como os filhos”.

Mesmo assim, a vida não foi fácil. “No início o moinho ainda era longe, tínhamos que ir a cavalo, o lugar mais perto era Osvaldo Cruz. Eu fazia pão no forno de tijolos, era tão bom! Eram tempos difíceis, mas não se passava fome. Depois meu marido construiu um chiqueiro maior, tínhamos vaca de leite, plantávamos. Colhíamos bem, tanto é que no mercado se comprava pouca coisa”.

Segundo a nona, ela viu Taquaruçu crescer. “No começo, o comércio era o Zanchetti. Depois veio o ginásio, o grupo escolar. O primeiro professor foi o João Fontana. Eu não estudei, nunca tive um dia de aula. Mas sou leitora, gosto de ler, especialmente jornal, por causa das notícias. Aprendi com meu pai, de noite, ele dava instruções, com os livros do primeiro e segundo ano. Mas ele era bravo, não tinha muita paciência. Só que eu tinha tanta vontade de aprender, que aprendi”.

Família

O marido da nona já é falecido há 32 anos, mas deixou um legado de honestidade e força de vontade para trabalhar. “Ele estava sempre doente, o médico disse que era pedra na vesícula. Quando fez a cirurgia, viram que o fígado estava ruim, e que corria muito risco. E foi assim. Aí fiquei morando com meu filho mais novo. Antes de meu marido morrer, ele chamou todos os filhos e disse, sejam honestos, como eu fui. Trabalhem com os braços de vocês, não queiram tirar nada dos outros. Andem no caminho certo, observem a religião, que hoje está um pouco esquecida”, conta a nona, que tem a fé e a religiosidade muito presentes em sua vida.

Para finalizar, Darcisa deixa um recado para a comunidade. “Taquaruçu é uma cidade boa, parece que as autoridades estão fazendo o possível para isso. Sempre digo para as pessoas que trabalhem, que seja honestos e que não se envolvam com drogas. Meus filhos nunca se envolveram. Também não pode faltar oração. Tenho muito orgulho dos meus filhos, todos trabalharam muito e ganham o pão com o suor do seu rosto”, finaliza.

 

 

 

 

Fonte: Jornal Folha do Noroeste

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